Portugal was new weapons to stop its “brain drain”

Fraunhofer Portugal was mentioned in the news as an example of Portugal’s effort to stop its ‘brain drain’. You can read the full news (in PT) here:

 

Portugal tem novas armas para travar "fuga de cérebros"

 

Novos institutos e programas estão a mudar a ciência. Os cientistas estão a aproveitar as oportunidades.

Quando alguém está a fazer um doutoramento "lá fora" há uma pergunta que acaba sempre por surgir: "E vai voltar para Portugal?" Independentemente da resposta, os investigadores portugueses têm hoje mais hipóteses de regressar e ficar. Há uma nova realidade favorável a quem quer trabalhar na ciência em Portugal. Há mais institutos, acordos, programas e parcerias. A próxima questão é se, depois de atrair os investigadores, vamos conseguir mantê-los por cá.

Este mês, o ministro da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, gabou-se de governar uma área exemplar do país. Primeiro, num debate com investigadores portugueses radicados nos Estados Unidos defendeu que o país tem evitado de forma "exemplar" a "fuga de cérebros", ao mesmo tempo que se tornou importador de cientistas. "Portugal é o caso mais exemplar no pós-guerra, talvez o único, de grande desenvolvimento científico sem brain drain [fuga de cérebros], ou com pouquíssimo", disse Mariano Gago. "O número de pessoas da ciência fora de Portugal é insignificante." Porém, o ministro não referiu nem os números "insignificantes" nem os "exemplares". Um dia depois, em Paris, num seminário da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE), Gago insistia: Portugal "é visto como o exemplo a seguir".

Os desafios em aberto

O PÚBLICO pediu ao Ministério da Ciência números que permitissem concluir até que ponto temos evitado a "fuga de cérebros". Na resposta, entre outros dados, o ministério referia que, desde 1994 até 2008, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) concedeu mais de 4500 bolsas de formação avançada no estrangeiro (incluindo bolsas de doutoramento e pós-doutoramento) e ainda mais de 4000 bolsas de doutoramento mistas, que implicam períodos de formação e de investigação em Portugal e no estrangeiro.

E quantos voltaram? "Os dados disponíveis de inquéritos a ex-bolseiros da FCT mostram que a esmagadora maioria desses ex-bolseiros desenvolve actividades em Portugal", refere apenas o ministério.

Assim, na ausência de números oficiais que mostrem de forma clara a relação entre os investigadores que saíram e os que voltaram, há sinais importantes. Vamos a exemplos. No Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, entre 1998 e 2010, dos 14 grupos de investigação (com líderes portugueses) que deixaram o ICG, 13 permaneceram em Portugal a fazer investigação. Na Fundação Champalimaud, os dados denunciam a tendência do "querer ficar", com cada vez mais doutorados a permanecer em Portugal no final do projecto. "Estamos a ficar com falta de espaço", diz o norte-americano Zachary Mainen, coordenador do programa de neurociências da Champalimaud. No programa Fraunhofer Portugal, há 17 investigadores a trabalhar, todos portugueses. No Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia há lugar para as melhores 300 candidaturas e no primeiro parque português de biotecnologia, o Biocant (Cantanhede), há 150 investigadores e apenas cinco são estrangeiros.

Entre alguns dos responsáveis pela investigação que se faz em Portugal há consensos. Todos saúdam o salto no desenvolvimento da ciência no país e dizem que temos investigação de topo por cá. Um reflexo desse avanço é, por exemplo, o facto de muitos dos doutoramentos já se realizarem em Portugal. Por outro lado, reconhecem o papel determinante das bolsas da FCT. A ligação com a indústria é importante para fixar recursos qualificados, mas Portugal ainda está muito atrasado neste domínio. Pois, nem tudo são rosas. Exemplos? António Coutinho, do IGC, refere o financiamento irregular e a necessidade de fazer "uma poda" capaz de eliminar a investigação de má qualidade que tem sido apoiada em Portugal. O director do ICG também toca na ferida dos direitos dos bolseiros: "Se eu mandasse alguma coisa, a primeira coisa que eu mudaria era inseri-los na sociedade activa. É o mais urgente." Há ainda o problema do dinheiro quando comparamos um contrato de 100 mil euros por ano com a FCT com um acordo de um milhão e meio ou dois milhões de euros por três anos celebrado com o European Research Council. Porém, o responsável do centro lembra que liderou o primeiro programa doutoral no país (uma parceria com a FCT entre 1993 e 2000), que envolveu 101 pessoas e conclui: "Já voltaram 70." Por fim, sublinha: "Mas, mais do que se são portugueses ou não, interessa-nos que sejam bons e tenham o espírito de construir alguma coisa."

Boaventura Sousa Santos, director do Centro de Estudos Sociais, propõe transformar "as bolsas de pós-doutoramento em contratos junto das instituições" para estancar a fuga de cérebros. "Tenho tido vários colaboradores que, após vários anos de bolsas, acabam por concorrer, e ganhar, como reconhecimento da sua qualidade, posições em instituições de excelência no estrangeiro", nota. A FLAD, por seu lado, não está preocupada com a fuga de cérebros. "É bom termos gente a fazer ciência lá fora e que continuem a colaborar com as instituições em Portugal. O programa de bolsas que lançámos agora não é mais do que um incentivo a que isso aconteça mais", explica Paulo Zagalo e Melo, director da FLAD para Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação.

Além dos institutos, há novas portas de entrada, como os laboratórios associados e as parcerias do Governo com o Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT) e acordos com as universidades de Carnegie Mellon, Harvard e Austin. Porém, para quem fica fora destes "oásis" por vezes a única solução ainda é a fuga lá para fora. Rui Costa, um "cérebro" português que voltou recentemente, alerta: "Sim, estamos a conseguir atrair os investigadores. Mas será que os vamos manter?"

 

Source: 25.04.2010, Jornal Público